Se você tivesse nascido no Brasil em 1900, teria uma expectativa de vida de 33 anos. Hoje, graças aos avanços da medicina e às melhorias das condições sanitárias, o tempo de vida médio do brasileiro é superior a 77 anos, de acordo com dados do IBGE. As pessoas vivem mais, mas estão se preparando para ter uma vida melhor?
Aparentemente, não. A última edição da pesquisa Vigitel, do Ministério Saúde, mostra que menos de 40% dos brasileiros praticam atividades físicas suficientes, mais de 56% estão acima do peso e quase 22% são obesos.
A maneira como você vive hoje diz muito sobre como você irá viver no futuro
Falta de exercícios, estresse, má alimentação, cigarro e carência de sono são fatores que influenciam o surgimento de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e outras enfermidades. Ou seja, a maneira como você se comporta pode comprometer, e muito, sua saúde ? hoje e no futuro.
E, também, afetar seu bolso, gerando gastos significativos com remédios, médicos, exames e hospitais ao longo de toda a vida. Um indivíduo na faixa de 70 anos gasta, em média, seis vezes mais com remédios, seguros e despesas médicas do que um jovem de 20 anos, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. Quanto mais medidas de prevenção, mais economia lá na frente.
A importância da saúde preventiva
A questão é tão importante que deu origem à chamada medicina do estilo de vida, uma área que ganha cada vez mais espaço nos serviços públicos e privados de saúde. Sua origem está relacionada à constatação, por meio de estudos e pesquisas científicas, de que o estilo de vida é o principal fator de risco para as doenças que mais afetam a população em todo o mundo.
A proposta vai além de evitar doenças: busca promover qualidade de vida a partir da construção de novos hábitos, com foco em alimentação equilibrada, atividade física, sono adequado, controle do estresse e conexões sociais.
Segundo a psicóloga Raphaela Ganesha M. Campos, falar de saúde após os 50 anos envolve mais do que consultas e exames. Trata-se de resgatar o propósito, cultivar hobbies, manter a mente ativa e reorganizar a rotina para que o dia continue fazendo sentido quando você desacelerar ou decidir parar de trabalhar. "A autoestima e a autoconfiança estão muito ligadas àquilo que a gente produz. Por isso é tão importante investir em atividades que nos ajudem a continuar nos sentindo úteis e vivos, dentro das nossas possibilidades", comenta a psicóloga.
O que se busca na saúde preventiva é fazer com que o médico deixe de ser um prescritor de exames e medicamentos e tenha um papel ativo na orientação ao paciente, ajudando-o a encontrar caminhos que respeitem os limites da idade, mas também valorizem a autonomia, os afetos e a capacidade de adaptação de cada pessoa.
O que você pode fazer para construir um estilo de vida saudável
Os médicos possuem um papel essencial na orientação e acompanhamento do paciente, mas você pode e deve fazer a sua parte para viver mais e melhor. Confira, abaixo, algumas dicas de hábitos que você pode mudar ou começar a adotar agora, para ter mais saúde. Para te ajudar com isso, separamos 6 dicas para você construir uma saúde física mais saudável.
1. Conheça suas forças e fraquezas
A rotina agitada, a distância de casa ou o cuidado com os netos estão entre os motivos mais citados por quem deixa os exercícios físicos de lado após os 50. Mas manter o corpo em movimento faz diferença justamente nessa fase da vida: aumenta a disposição, melhora a qualidade do sono, protege a saúde cardiovascular e contribui para preservar a autonomia por mais tempo.
Um bom começo é conversar com um educador físico, fisioterapeuta ou outro profissional de saúde que possa ajudar você a identificar os obstáculos reais e montar um plano de atividades compatível com sua rotina, suas condições físicas e seu orçamento.
A recomendação é, para começar, fazer 30 minutos de atividade vigorosa pelo menos três vezes por semana. Vale dividir esse tempo ao longo do dia, até mesmo em atividades rotineiras. Prefira ir aos lugares que precisa à pé, quando possível, opte pela escada no lugar do elevador, e faça isso entrar em sua rotina.
Não é preciso investir em academia cara ou personal trainer para colher os benefícios de se movimentar. Metas realistas, cuidado com o corpo e atenção às finanças são ingredientes-chave para fazer da atividade física uma aliada do envelhecimento saudável, sem pesar no bolso.
2. Saia do sofá e alongue-se
Adquira o hábito de levantar depois de uma hora sentado. Estique-se e faça pequenos alongamentos. Só isso já faz uma grande diferença no controle de dores musculares e doenças articulares, por exemplo. De preferência, procure locais públicos, como parques e jardins, para se exercitar. Se a atividade for feita em grupo, melhor ainda. Pesquisas mostram que a convivência contribui para a qualidade de vida de pessoas de todas as idades.
3. Não saia sem o café da manhã
Sair de casa sem se alimentar é um hábito comum, mas pode ser um gatilho para o estresse e a fadiga ao longo do dia. Especialistas dizem que adultos que tomam café da manhã regularmente têm menor risco de desenvolver doenças cardiovasculares e apresentam melhor desempenho cognitivo. O ideal é acordar um pouco mais cedo e fazer uma refeição leve e equilibrada, com fontes de energia e nutrientes.
4. Prepare seus alimentos
Quem almoça fora todos os dias precisa redobrar a atenção com as escolhas. Observar a variedade de cores no prato, evitar excessos e incluir legumes, verduras e frutas são atitudes que fazem diferença na saúde. Sempre que possível, vale apostar na marmita feita em casa, que é uma opção mais econômica e com controle sobre os ingredientes. Delivery e lanches prontos devem ser exceção, não regra.
5. Tenha um sono adequado
Dormir bem é tão importante quanto se alimentar de forma saudável. Criar uma rotina de sono, evitar o uso de eletrônicos antes de deitar e manter o quarto escuro, silencioso e arejado são cuidados simples que favorecem o descanso profundo. Um colchão adequado à sua postura e à sua idade também faz diferença.
6. Hidrate-se sempre
A ingestão de água ajuda a regular a temperatura corporal, melhora o funcionamento dos rins e favorece a concentração. A recomendação geral é consumir cerca de 2 litros por dia, mas essa quantidade pode variar de pessoa para pessoa. Uma dica prática é manter uma garrafa de água por perto, seja no trabalho ou em casa, e criar o hábito de beber pequenas porções em intervalos regulares.
Como cuidar da saúde mental depois dos 50
Envelhecer é uma transição natural da vida, mas nem sempre fácil. Segundo Raphaela Ganesha, essa fase costuma ser marcada por perdas simbólicas e mudanças de rotina que podem ser vividas como um tipo de luto: da independência, do ritmo produtivo, da profissão. "É como se a gente perdesse o papel que nos definia por décadas. E, se não há novas referências, a sensação pode ser de vazio", explica.
Por isso, criar novos propósitos e manter uma rotina estruturada faz toda a diferença. Mesmo fora do mercado de trabalho, vale estabelecer horários para acordar, se alimentar, sair de casa, cultivar hobbies e buscar atividades prazerosas. "Isso ajuda o cérebro, regula a ansiedade e reforça a autoestima", destaca a psicóloga.
Além da rotina, manter hobbies, atividades físicas e, principalmente, atividades em grupo também são grandes aliadas. Participar de um coral, fazer aulas de dança, aprender um instrumento musical, jogos de tabuleiro, oficinas de artesanato, clubes de leitura e passeios em grupo são maneiras eficazes de estimular a mente e evitar o isolamento social que, segundo a psicóloga, pode levar ao adoecimento mental.
Onde encontrar atividades gratuitas para cuidar da mente, do corpo e se conectar com outras pessoas
A participação em atividades culturais, físicas e criativas é uma das formas mais eficazes de manter a saúde mental e emocional em dia na maturidade. E o melhor: muita coisa está disponível gratuitamente em serviços públicos, centros culturais e instituições de ensino.
SESC ? Serviço Social do Comércio
O Sesc é uma das instituições que mais investem em atividades para o público 50+. Em várias unidades do Brasil, a programação contempla atividades físicas, oficinas culturais, palestras e ações de cuidado com a saúde e o bem-estar. O programa Maturidade Ativa, por exemplo, promove a autonomia, o convívio social e a valorização da experiência de vida dos participantes, incentivando o envelhecimento ativo e saudável.
Entre as atividades mais comuns estão: dança sênior e grupos de caminhada; coral e grupos de canto; oficinas de bordado, cerâmica, escrita criativa e artesanato; palestras sobre saúde, nutrição, eventos intergeracionais e encontros temáticos. Além disso, os grupos de Maturidade Ativa costumam organizar ações comunitárias, viagens culturais e fóruns de discussão, fortalecendo o protagonismo dos idosos em suas comunidades.
Acesse a programação pesquisando "SESC + sua cidade ou estado".
Centros de Convivência da Pessoa Idosa
Esses centros, oferecidos por diversas prefeituras, são espaços públicos voltados à socialização e ao envelhecimento ativo. No CCI de São Paulo, por exemplo, são promovidas aulas gratuitas de dança, canto, teatro, meditação, alfabetização digital e muito mais. Em Belo Horizonte, os Centros de Convivência também oferecem mais de 20 modalidades entre oficinas e encontros. Já em Curitiba, os Centros de Convivência para a Terceira Idade (CCI) contam com atividades como dança circular, jogos de memória e práticas de relaxamento.
Centros de Práticas Integrativas do SUS
Além dos cuidados médicos convencionais, o SUS também oferece abordagens de cuidado que envolvem o corpo e a mente, por meio das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). Em centros especializados, é possível participar de atividades como: Yoga, Tai chi chuan, Reiki, Aromaterapia, Meditação guiada, entre outras.
Um exemplo é o PICS em Porto Alegre, que promove rodas de conversa, grupos terapêuticos e práticas corporais. Grande parte dessas atividades é oferecida diretamente nas unidades básicas de saúde dos bairros. Em São Paulo (SP), existem seis centros especializados em práticas integrativas, com foco em terapias complementares, movimentos corporais e meditação. Na unidade da Vila Mariana, uma das mais conhecidas, os atendimentos mais buscados pela população são acupuntura e homeopatia.
Universidades da Terceira Idade
Muitas universidades públicas e privadas têm programas voltados à população 60+, com oficinas, cursos e grupos de convivência. Alguns exemplos:
- USP Aberta à Terceira Idade: oferece cursos regulares em diversas áreas do conhecimento.
- UnATI UERJ (Universidade Aberta da Terceira Idade): tem disciplinas, oficinas, eventos culturais e grupos de pesquisa com foco no envelhecimento ativo.
- Universidade Aberta ao Idoso (Unai): a PUC Minas busca propiciar atividades intelectuais, culturais e educacionais aos idosos da Unai visando a valorização de suas experiências acumuladas e sua atuação como protagonista de seu próprio aprendizado.
Como descobrir outras atividades gratuitas ou de baixo custo em sua cidade
Para começar, vale pesquisar o que está disponível na sua cidade: CRAS, UBS, secretarias de saúde ou de cultura costumam divulgar as opções atualizadas. Muitas atividades são gratuitas, mas podem exigir inscrição ou atestado médico. Visitar os espaços com antecedência e conversar com quem já participa também ajuda a familiarizar-se com o ambiente e entender melhor a dinâmica de cada grupo.
O mais importante é escolher algo que faça sentido para você e não é preciso começar com muitas atividades. Experimente aos poucos, respeitando seus limites e celebrando cada passo. Estar em movimento, compartilhar experiências e manter vínculos com outras pessoas já é, por si só, um enorme ganho para a saúde e a qualidade de vida.
Liberdade financeira aos 50+: escolhas que fazem a diferença
Chegar à maturidade costuma despertar o desejo de viver com mais liberdade e segurança ? e isso passa por colocar as finanças em ordem. Ter clareza sobre receitas e despesas, controlar dívidas e fazer planos para o futuro ajuda a aproveitar essa fase da vida com mais leveza e autonomia. Veja algumas atitudes práticas que fortalecem a saúde financeira.
- Organize o orçamento: anote todos os rendimentos e despesas, inclusive os pequenos gastos do dia a dia. No caso da aposentadoria, é importante observar com atenção o valor líquido recebido e os descontos automáticos. Você pode usar a planilha para aposentados e pensionistas do Meu Bolso em Dia para facilitar todo esse processo.
- Planeje a aposentadoria com antecedência: contar apenas com o INSS pode não ser suficiente para manter o padrão de vida desejado. Uma reserva financeira sólida permite escolhas mais livres nos anos em que o ritmo de trabalho diminui. Mesmo quem pretende continuar ativo precisa se preparar, já que os custos com saúde, bem-estar e lazer tendem a crescer com o tempo. O
- Renegocie dívidas com estratégia: situações de endividamento podem acontecer em qualquer fase da vida. Priorize dívidas com juros altos e avalie possibilidades de negociação. Se necessário, procure ajuda de instituições confiáveis para organizar o orçamento e sair do vermelho com mais tranquilidade.
- Fique atento a golpes e abusos: pessoas com mais de 50 anos são alvos frequentes de fraudes e violência patrimonial. Promessas de dinheiro fácil, pedidos de empréstimo recorrentes por conhecidos e compartilhamento de senhas devem ser evitados. Proteger a autonomia também é uma forma de cuidado.
- Reforce sua independência nas decisões: mesmo contando com apoio da família, é importante que as escolhas financeiras sejam respeitadas. A tentativa de controlar decisões pode causar insegurança e prejudicar a autoestima.
- Mantenha seus planos em movimento: realizar desejos não precisa esperar uma virada de vida. Reservar um valor mensal para uma viagem, um curso, uma nova atividade ou melhorias em casa ajuda a manter o entusiasmo com o futuro, em qualquer idade